Folk-lore,
Folklore,
Folclore:
Existe?
O antropólogo americano Marius Barbeau escreveu o seguinte:
"Sempre que se cante a uma criança uma cantiga de ninar; sempre que se use uma canção, uma adivinha, uma parlenda, uma rima de contar, no quarto das crianças ou na escola; sempre que ditos, provérbios, fábulas, estórias bobas e contos populares sejam representados; sempre que, por hábito ou inclinação, a gente se entregue a contos e danças, a jogos antigos, a folguedos; sempre que uma mãe ensina a filha a costurar, tricotar, fiar, tecer, bordar, fazer uma coberta, trançar um cinto, assar uma torta à moda antiga; sempre que um profissional da aldeia ( ... ) adestre seu aprendiz no uso de instrumentos e lhe mostre como fazer um encaixe e um tarugo para uma junta, como levantar uma casa ou celeiro de madeira, como encordoar um sapato-raqueta de andar na neve ( ... ) aí veremos o folclore em seu próprio domínio, sempre em ação, vivo e mutável, sempre pronto a agarrar e assimilar novos elementos em seu caminho.
Ele é antiquado, depressa recua de primeiras cidadelas ao impacto do progresso e da indústria modernos; é o adversário do número em série, do produto estampado e do padrão patenteado". (Uma definição de Folclore, artigo de Francis Lee Utley, incluído em O folclore dos Estados Unidos.)
Poesia à parte, se o folclore é isso, talvez não seja muito difícil compreender o que ele é. Mas acontece que ele, ao mesmo tempo, pode ser muito menos ou muito mais do que isso. Na cabeça de alguns, folclore é tudo o que o homem do povo faz e produz como tradição. Na de outros, é só uma pequena parte das tradições populares. Na cabeça de uns o domínio do que é folclore é tão grande quanto o do que é cultura. Na de outros, por isso mesmo folclore não existe e é melhor chamar cultura popular o que alguns chamam folclore. E, de fato, para algumas pessoas as duas palavras são sinônimas e podem suceder-se sem problemas num mesmo parágrafo. O folclorista brasileiro Bráulio do Nascimento, diretor do Instituto Nacional do Folclore, diz o seguinte na Introdução de um álbum sobre o Museu de Folclore Édson Carneiro: "A cultura popular pode intervir como elemento moderador no processo cultural, pois dispõe de instrumentos próprios para o equilíbrio necessário ao seu harmônico desenvolvimento". Um mesmo tom ele usa mais adiante, e muda apenas uma palavra pela outra: "A valorização do folclore, o reconhecimento da importância das manifestações populares na formação do lastro cultural da nação, constituem procedimentos capazes de assegurar as opções necessárias ao seu desenvolvimento". Com muita sabedoria, o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo mistura uma coisa com a outra e define folclore como" a cultura do popular tornada normativa pela tradição".
Para outros pesquisadores do assunto há diferenças importantes entre folclore e cultura popular: "Vizinhos, eles não são iguais, e sob certos aspectos podem ser até opostos".
Mas não são poucas as pessoas que acreditam que os dois nomes servem às mesmas realidades, sendo apenas que folclore é o nome mais “conservador” daquilo popular é o nome mais “progressista”.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. Coleção Primeiros Passos, São Paulo, Brasiliense, 1984, p. 22 a 24.
Fonte:
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