Caro Visitante! Este blog é uma forma de expressar a minha paixão pela Arte, pela Natureza e também pela minha querida cidade natal que é Ribeirão Bonito. Espero que encontre aqui um espaço do seu agrado e, sobretudo que se sinta à vontade para apreciar, contemplar, refletir, observar, analisar, comentar, interagir, sugerir, enfim, participar. Seja bem-vindo!
Por Luis Gustavo Reis, professor de História do Brasil.
A escravidão foi um dos períodos mais nefastos da história do Brasil. Calcula-se que desembarcaram nas Américas por volta de 10 a 15 milhões de africanos escravizados. Deste total, aproximadamente 40% vieram para o Brasil.
O trabalho dos escravizados foi utilizado em diferentes serviços, sobretudo na lavoura e nas tarefas domésticas da Casa Grande, além disso, exerciam variadas funções nas áreas urbanas. Todavia, os cativos não aceitaram pacificamente a escravidão e resistiram cotidianamente. Mesmo ameaçados pelo chicote ou vigiados pelos olhos “atentos” dos feitores, os escravizados incendiavam plantações, agrediam senhores e feitores, além de promoverem constantes rebeliões.
O regime escravista não se baseava apenas na violência. Uma teia de negociações pautava as relações entre senhores e escravizados. Quando a negociação falhava ou era desrespeitada por uma das partes, abriam-se os caminhos da ruptura.
Durante anos a fuga e a formação de comunidades de fugitivos (mocambos e quilombos) caracterizou, por parte dos escravizados, a ruptura mais recorrente e decisiva. Os cativos fugiam por diversos motivos: seja pelos castigos físicos, separação de familiares ou em busca da sonhada liberdade. Uma das comunidades de fugitivos mais duradouras foi Palmares (1597-1694). Formado por vários mocambos no nordeste açucareiro, entre as regiões de Pernambuco e Alagoas, Palmares representou uma esperança de liberdade aos escravizados e um terrível pesadelo para senhores e autoridades coloniais durante quase um século.
A figura mais conhecida e polêmica de Palmares é Zumbi. Pouco se sabe sobre sua história, principalmente por conta dos mitos que foram criados a seu respeito. Grosso modo, Zumbi descendia dos guerreiros imbangalas ou jagas de Angola e teria nascido no começo de 1655, nos mocambos palmarinos. Capturado no mesmo ano de seu nascimento, fora criado por um padre português durante um período, até fugir e regressar novamente a Palmares.
Com a morte de Ganga-Zumba em 1678, Zumbi assume a liderança de Palmares e logo empreende uma série de medidas para se consolidar. Entre essas medidas destacam-se a fortificação dos mocambos e os ataques sistemáticos a plantações e povoações vizinhas, na busca de escravos, armas e munições.
Uma série de expedições foram organizadas para destruir Palmares, porém todas elas derrotadas num primeiro momento. Entre os anos 1692-1694, lideradas pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, foram feitas novas ofensivas contra Palmares. Após resistirem durante meses, os palmarinos sucumbiram diante das forças escravistas. Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695, teve sua cabeça decepada e enviada ao Recife. Enfiada em uma estaca e exposta em praça pública, tinha como objetivo servir de exemplo aos demais escravizados que ousassem se rebelar.
Após a morte do rebelde nasceu o mito e Zumbi passou a inspirar uma série de movimentos sociais e artísticos ao longo da história do Brasil. Foi resgatado pelos abolicionistas na segunda metade do século XIX, tornou-se símbolo da luta dos negros contra a dominação escravista, embora nada indique que entre os objetivos de Palmares estivesse abolir a escravidão.
Durante o século XX, Zumbi foi tema de cinema, peças de teatro, enredo de escola de samba, movimento guerrilheiro e de instituições públicas e privadas. Em 1978, em substituição ao 13 de maio (Abolição da escravidão), o Movimento Negro Unificado (MNU) elegeu o simbólico 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra, homenageando umas das figuras mais destacadas da história do negro no Brasil.
A história de Palmares e dos quilombos brasileiros ainda tem muito a nos dizer. Rememorá-las neste mês da Consciência Negra é salutar, sobretudo em uma sociedade manchada pelo preconceito, pela hipocrisia e pelas odiosas manifestações de racismo que pipocam em todos os rincões deste país.
Neste sentido cabe se perguntar qual sociedade queremos. Uma sociedade mais justa e fraterna, onde todos vivam integralmente sua cidadania ou um país viciado em estigmatizar pessoas de acordo com a cor da sua pele? Enquanto não resolvermos essa questão, estaremos condenados a girar em falso, estacionados no comodismo. Se esconder atrás do véu da democracia racial ou transferir a responsabilidade para o Estado é, no mínimo, esquivar-se da responsabilidade. É necessário discutir a questão com seriedade e comprometimento, só assim será possível nos desgarrarmos dos enferrujados grilhões que nos atam ao racismo.
Para saber mais: REIS, João José & GOMES, Flavio dos Santos (orgs.) Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
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Quanto vale uma Dilma de branco, no discurso da vitória, ao lado de Ciro Nogueira, citado no escândalo do petrolão? Ou: De terno branco, com alma vermelha. Ou: Ainda não será desta vez que Dilma vai sentir falta do meu mel!
Dilma Rousseff no discurso da vitória: terninho branco, alma rubra
A presidente reeleita, Dilma Rousseff, resolveu tirar o terninho vermelho de campanha e de debates. Em seu lugar, vestiu o branco. Há a hora do Falcão e a hora da pomba. No discurso da vitória, falou em nome da paz. Cumprimentou todos os parceiros de jornada, com salamaleques especiais a Lula — nem poderia ser diferente. Entre os presentes, Ciro Nogueira, o presidente do PP, citado no escândalo do petrolão. No discurso, aquela que, segundo Alberto Youssef, sabia das vigarices na Petrobras, prometeu combater a corrupção. Ciro Nogueira aplaudiu com entusiasmo.
Dilma negou que o país esteja dividido, rachado ao meio — embora ela saiba que está, mas esse é tema para outro comentário, que ainda farei aqui. Venceu a eleição com pouco mais da metade dos votos válidos, numa disputa em que 27,44% dos eleitores se negaram a sufragar um nome: 1,71% dos votantes decidiram pelo branco; 4,63%, pelos nulos, e 21,1% se ausentaram. De fato, ela é presidente por vontade de 38% dos eleitores aptos a participar do pleito. É bem menos do que a metade. É a reeleita legítima, mas isso não muda os números.
Assim, cumpre que Dilma busque ganhar a confiança não apenas dos 51.041.155 que votaram em Aécio, mas também dos 32.277.085 que não quiseram votar em ninguém. Juntos, eles são 83.100.453, bem mais do que os 54.501.118 que a escolheram. Neste blog, eu adverti várias vezes para esse fato, não é mesmo? Critiquei severamente a campanha suja movida pelo PT porque ela acabaria deixando um rastro de ressentimentos, de rancor.
No discurso da vitória, leiam a íntegra abaixo, Dilma afirma, por exemplo: “Toda eleição tem que ser vista como forma pacífica e segura. Toda eleição é uma forma de mudança. Principalmente para nós que vivemos em uma das maiores democracias do mundo.”
Pois é. Posso concordar em parte ao menos, embora, de fato, nas democracias, eleições signifiquem, antes de mais nada, conservação de um método: recorre-se às urnas para decidir quem governará o país. Mas sigamos. Quando o PT e Dilma transformaram os adversários em verdadeiros satãs, que fariam o país recuar nas conquistas sociais; quando os acusaram de representantes de “fantasmas do passado” — sim, essa expressão foi empregada; quando lhes atribuíram um passado que não tiveram e intenção que não teriam, será que a presidente e seu partido expressavam, de fato, fé na democracia?
Quando a chefe da nação, ainda que nas vestes da candidata, investe contra um veículo de comunicação que apenas cumpriu o seu dever, estimulando milicianos a atacar uma empresa jornalística, onde estava essa Dilma que agora veste o branco? Quando Lula comparou os opositores do PT a nazistas, acusando-os de golpistas, onde estava o PT da paz e do entendimento? “Ah, mas Aécio Neves não criticou Dilma?” É certo que sim! Mas nunca deixou de reconhecer avanços nas gestões petistas. Uma coisa é criticar a condução de políticas; outra, distinta, é acusar o adversário de articular, de forma deliberada, o mal do país.
A fala pacificadora de Dilma não me convence — até porque Gilberto Carvalho, seu secretário-geral da Presidência, quase ao mesmo tempo, falava uma linguagem de guerra. Tratarei dele em outra oportunidade. E não me convence por quê? Porque Dilma afirmou que a principal e mais urgente tarefa de seu governo é a reforma política. Ainda voltarei muitas vezes a esse assunto. Mas a tese é falaciosa. Diz a presidente reeleita que pretende conduzir o debate por meio de plebiscito — para que e com que pergunta? Em debates na TV, expressou o entendimento absurdo de que o mal essencial do nosso sistema está no financiamento de campanhas por empresas. Errado! O mal essencial no que diz respeito ao Estado está no aparelhamento do bem público em favor de partidos e camarilhas. Ou não vimos um agente do petismo, disfarçado de presidente da Agência Nacional de Águas, a fazer proselitismo eleitoral em São Paulo de maneira descarada?
Ignorar a crise de fundamentos — para ser genérico — que hoje assola a economia brasileira e que deixa o país sem perspectiva de futuro para brincar de plebiscito, constituinte exclusiva, como ela já defendeu, e reforma política corresponde a apagar incêndio com gasolina. Dilma não tenha a ilusão de que gozará de um período de lua de mel. Com ou sem razão, espero que sem (e também sobre isso falarei em outra ocasião), naquelas partes do Brasil em que pouco se olha quem sobe ou desce a rampa, desconfia-se até da inviolabilidade das urnas eleitorais.
Se a dita reforma política vai ser o seu “chamamento à união”, então, posso afirmar, com pouca chance de errar, que ela está é querendo provocar ainda mais conflitos. Não adianta vestir um terninho branco quando a alma segue vermelha, governanta.
Em seu discurso, Dilma insiste que o Brasil votou para mudar — é, talvez para que o governo mude os métodos. No que concerne às instituições, o voto crescente é para “conservar” — no caso, conservar instituições. Espero que também as oposições se deem conta disso e não tergiversem, como já fizeram no passado, na defesa dos fundamentos da democracia representativa.
No que me que diz respeito, é preciso bem mais do que um terninho branco para me comover. Ademais, sigo a máxima de que um indivíduo se dá a conhecer muito mais por seus atos do que por suas palavras.
As palavras recentes da presidente-candidata estimularam uma milícia de vagabundos a atacar uma empresa de comunicação. Por enquanto, não tem a minha simpatia nem meu voto pessoal de confiança — sei que é irrelevante para ela, mas é meu, e dele, cuido eu. E também não consigo imaginar que alguém que proponha constituinte exclusiva para fazer reforma política esteja com boa intenção. Bondade assim, já vi antes na Venezuela, no Equador e na Bolívia.
Ainda não será desta vez que Dilma vai sentir falta do meu mel.
Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)