...m, porque reencontrei gente perdida desde o tempo da escola, da igreja, da rua. Mas preciso dizer que perdi também. Quando, na última segunda-feira, uma das minhas amigas falou em homenagear outro, pressenti que algo não estava bem. Ninguém homenageia um rapaz de 42 anos, na flor da idade, com quem você deu gargalhadas homéricas falando de coisas tão áridas quanto a indústria do petróleo. Pois é. Eu não queria soar triste nem parecer óbvia demais no Dia de Finados, mas eu precisava falar dessa homenagem num dia em que tantas pessoas estão pensando naqueles que se foram.
Naquele dia, o meu círculo de amigos encolheu para nunca mais voltar ao mesmo lugar. Um deles partiu cedo demais. Não vou falar da tristeza que me invadiu porque, de novo, seria óbvio. Foi difícil não pensar nos pais do meu amigo, que sequer conheci, só ouvi falar. Minha primeira reação foi tentar compartilhar a dor na própria rede, uma idéia nada original, eu sei, mas ninguém é original quando está triste. Foi no mural do meu amigo que li mensagens e palavras dirigidas ao próprio, típicas daquela intimidade que criamos pessoalmente. Eu vi vídeos antigos dele, fotos e conheci histórias recentes, depositadas como um buquê de flores, no mural. Eu até sorri tristemente ao saber que ele havia falado em reler Grande Sertão Veredas antes de morrer.
Fiquei menos só lamentando a minha incapacidade de compreender em todo o seu significado o fim da vida, ainda que eu não pudesse curtir no sentido positivo aquelas manifestações de alegria e pesar. Esse vazio a gente curte no fogo brando do tempo, esperando que, na memória, só restem as risadas. Antigamente, os amigos iam ao enterro, levavam flores, abraçavam-se, consolavam-se. Hoje, nossas mensagens estão registradas em imagens, preces, posts e músicas, numa belíssima lápide social.
Fonte:
http://colunas.epoca.globo.com
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